Amônia e Propano, alternativas para a climatização de conforto
O tema da sustentabilidade tem ganhado destaque nos mais diversos setores da economia, e a engenharia não foge à regra. Dentro da área de HVACR (a sigla em inglês para aquecimento, ventilação, ar-condicionado e refrigeração), o movimento global pela descarbonização impulsiona a busca por soluções mais eficientes e menos poluentes — e, nesse contexto, os refrigerantes naturais vêm ganhando protagonismo.
Entre eles, destacam-se a amônia e o propano, tradicionalmente utilizados em sistemas industriais e comerciais de refrigeração, mas que agora passam a ser considerados também para a climatização de conforto, em ambientes como edifícios comerciais, hospitais, shopping centers e arenas esportivas.
A amônia (NH₃) é um dos refrigerantes mais antigos ainda em uso. Seu destaque se deve ao excelente desempenho termodinâmico, com alta eficiência energética, além de não agredir a camada de ozônio (ODP = zero) e apresentar um potencial de aquecimento global (GWP) igual a zero. Mais recentemente, a amônia tem sido incorporada a sistemas de água gelada (chillers) para aplicação em projetos de climatização de grande porte. Suas principais vantagens são:
- Distribuição eficiente do frio por meio de redes de tubulação para diferentes zonas do edifício;
- Baixo custo operacional e longa vida útil dos sistemas;
- Alta eficiência energética, reduzindo o consumo de energia em comparação com refrigerantes sintéticos.
Contudo, sua aplicação requer atenção. A amônia é tóxica em altas concentrações, exigindo sistemas de detecção de vazamentos, ventilação de emergência e manutenção rigorosa. No Brasil, normas como a NBR 16069/2018 e a diretriz CETESB P4.261 estabelecem critérios técnicos para garantir segurança em sistemas de conforto que utilizam esse fluido.
Propano: Eficiência e Baixo Impacto Ambiental
Já o o propano (R-290) bastante utilizado na Europa e principalmente na Ásia, tem se consolidado como uma alternativa ao R-22 e, mais recentemente, ao R-32 em sistemas de climatização doméstica e refrigeração de pequeno porte em restaurantes e supermercados.
Sua popularidade deve-se a uma combinação de fatores:
- Propriedades termodinâmicas semelhantes ao R-32, facilitando a adaptação dos equipamentos;
- Baixíssimo GWP (apenas 3) e ODP igual a zero, o que o torna um dos refrigerantes mais ecológicos disponíveis;
- Alto desempenho energético, proporcionando eficiência nas trocas térmicas.
No Brasil, esse movimento de substituição dos HCFCs (como o R-22) por fluidos naturais já apresenta resultados. Em 2018, o país havia eliminado cerca de 38% do consumo de HCFCs, contribuindo diretamente para a preservação da camada de ozônio.
Tendência Irreversível no Setor HVACR
A substituição dos HFCs e HCFCs por refrigerantes naturais é parte de uma estratégia global. Países como os Estados Unidos já iniciaram o banimento de fluidos como R-134a, R-404A e R-410A. No Brasil, a implementação da Emenda de Kigali começará em 2026, com previsão de conclusão até 2045, prevendo a redução de cerca de 79,5 milhões de toneladas de CO₂ equivalente. Neste cenário, a adoção de alternativas como a amônia e o propano não é apenas uma resposta às regulamentações, mas também uma decisão técnica, econômica e estratégica. Para que essa transição ocorra com segurança e eficiência, é essencial seguir as normas técnicas vigentes e investir em capacitação profissional.
Em resumo, a amônia e o propano se consolidam como protagonistas na construção de um futuro mais sustentável para o setor HVACR. Mais do que substituir fluidos antigos, esses refrigerantes naturais representam uma nova forma de pensar a climatização: eficiente, segura e ambientalmente responsável.